Rss Feed
  1. A cozinha da revolução

    domingo, 31 de março de 2013

    Título: A Cozinha da Revolução
    Título original: The Noodle Maker
    Autor: Ma Jian
    Tradutora (a partir da edição em inglês): Heloísa Mourão
    Editora: Record
    Número de páginas: 254
    Ano de publicação no Brasil: 2011
    ***
    Nesta sátira política, dois amigos chineses, um escritor e um doador de sangue, se encontram ocasionalmente para jantar e conversar. A refeição parece sempre ser paga pelo doador de sangue profissional, uma vez que sua profissão é melhor remunerada que a do escritor profissional (escritor de propaganda política).

    Na noite em que a história se passa, os dois comem carne de ganso, enquanto o escritor conta ao doador de sangue que o secretário do Partido lhe encomendou um conto sobre o camarada Lei Feng, um herói nacional, quando, na verdade, ele queria escrever um romance com outros personagens. Ao mesmo tempo, se sente propenso a escrever sobre Lei Feng para entrar para o Grande dicionário de escritores chineses.

    Entre um debate e outro com o doador, que também é meio filósofo, o escritor conta a história de personagens com os quais teve contato (ou talvez isso também faça parte de sua ficção):

    - um empreendedor que, com a mãe, abriu e cuida de um crematório particular, sendo que o forno fora usado anteriormente por alunos de artes/cerâmica de uma faculdade fechada; uma das vantagens de ser cremado no Crematório Enlevados é que os parentes do morto podiam escolher a música a ser tocada enquanto o corpo queimava, incluindo as músicas proibidas pelo governo, que custavam mais caro;

    - Ele é imortal agora - disse o filho. - Não importa se vai para o céu ou o inferno, ele não voltará para cá, principalmente porque conseguiu passar pela vida sem cometer qualquer erro grave. - Ele se aproximou do toca-fitas, desligou "A internacional" e depois colocou uma ária de Salambô sem custo adicional.

    - uma atriz que, por desilusão amorosa, decide fazer de seu suicídio um espetáculo - será devorada por um tigre ao vivo; os ingressos se esgotam rapidamente e entre os espectadores está o pintor por quem ela era apaixonada;

    - Todo sofrimento é criado pelo homem - dizia ela, tentando se consolar. - O sublime estado de confusão só é possível quando o coração está embotado. O suicídio é a única cura permanente para o desespero. - Su Yun se proibiu de pensar em seu nascimento ou sua morte. Sabia que os dois caminhavam em direções opostas, mas apontavam para o mesmo objetivo.

    - uma romancista de sucesso que se casa com o "Velho Hep", editor de uma revista literária que não tinha o mesmo nível intelectual que ela. O marido suporta vários maltratos e humilhações da esposa, até que redescobre sua autoconfiança ao arranjar amantes - ironicamente, trata uma tecelã, sua primeira amante, que o adora, como a esposa o trata; o escritor profissional chegou a dormir com a romancista uma vez;

    - Ninguém neste mundo é feliz de verdade. - O escritor ainda está pensando na romancista e no editor.

    - um escritor de rua, que escreve cartas para camponeses analfabetos que chegam à cidade e, por meio desse ofício, ajuda a impulsionar ou terminar relacionamentos; ele mora em um barracão onde funcionava o Crematório Enlevados, vazio desde que o filho e a mãe desapareceram; em uma noite, o espírito da velha ranzinza o visita (esse é um dos elementos fantásticos do livro) e, depois disso, ele chega à conclusão de que viveu a vida de outras pessoas e não a sua;

    "O homem ganha sabedoria somente por meio do sofrimento. As pessoas que nunca sofreram são incapazes de crescer. A felicidade é uma choupana de madeira que se encontra após uma longa e difícil jornada; as pessoas que tomam o caminho fácil nunca conseguem vê-la. A infelicidade que sofri no passado foi a infelicidade de outras pessoas. Não deixou em mim nenhuma marca."

    - uma moça que corre despida pela rua, depois de ter um tipo de colapso nervoso ao saber que suas colegas de trabalho criticavam seus grandes seios e se sente acabada com isso;

    "O problema não é a morte, mas a vida, e a vida é apenas um ato de resistência; é preciso trincar os dentes e encará-la." [trecho da fala do doador de sangue profissional]

    - um pai que tenta abandonar a filha retardada, para tentar ter um filho que perpetuasse o nome da família - com a Política do Filho Único, por sua filha mais velha ter nascido retardada, ele pôde conceber outro bebê, mas nasceu outra menina e somente no caso de a filha mais velha "sumir", o governo lhe daria a chance de conceber mais um filho;

    - o pintor por quem a atriz suicida era apaixonada que tinha um cachorro falante, o Sobrevivente. O cachorro de três patas vivia no sótão e não poderia ser visto por outras pessoas, caso contrário seria exterminado por causa da possibilidade de transmitir raiva, e conversava com o dono sobre as mazelas da sociedade. Um dia, ao chegar de viagem, o pintor percebe que o cão foi morto e será empalhado pelo museu onde trabalha. O cachorro era um dos personagens mais lúcidos do livro todo.

    - Talvez outros animais sejam igualmente indiferentes ao sofrimento de sua própria espécie, mas duvido que qualquer um deles possa encontrar tantas maneiras de causar dor como os homens encontraram. A mim me parece que o homem é a fera mais vil de todas.

    - Tudo que vocês querem é comer, fazer sexo e ir às compras. Todas essas atividades requerem a participação de outros, não apenas de uma pessoa, mas de um monte delas.Vocês precisam se apinhar em cidades e vilas para escapar do vazio de seus corações.

    Com frequência há referência à Política de Portas Abertas, iniciado por Deng Xiaoping, em 1978, que foi a abertura do país para o mundo, a fim de atrair investidores estrangeiros e alavancar a economia, e percebe-se uma mudança de comportamento em alguns personagens, como, por exemplo, o uso de batom e esmalte pelas mulheres, o anseio das pessoas em comprar produtos importados, cuja venda ainda é meio clandestina, o gosto por "músicas proibidas", mas os problemas de pobreza, burocracias e incoerências políticas persistem.

    Apesar de ter inserido vários elementos da cultura chinesa nas histórias, o autor também alcança o universal ao retratar a morte, o amor, a desesperança, o rancor, a maldade humana.

    Ma Jian nasceu em 1953 em Qingdao, leste da China, e atualmente mora em Londres, com a companheira Flora Drew, tradutora de alguns de seus livros para o inglês, e quatro filhos.

    Uma entrevista com Ma Jian pode ser lida aqui (em inglês).

    ***

    Rolinho primavera e molho agridoce

    Este prato é geralmente servido no Ano-Novo Chinês (também chamado de "Festival da Primavera", daí o nome) e, segundo informações lidas na internet, sua receita surgiu aproximadamente no ano  300.


    Ingredientes:

    Massa
    2 xícaras (chá) de farinha de trigo
    2 xícaras (chá) de água
    sal a gosto
    óleo para fritar

    Recheio
    1/4 de repolho
    1 cenoura
    300 g de frango
    2 tabletes de caldo de galinha
    1 tomate
    1 cebola
    molho de soja (shoyu) a gosto
    óleo para refogar

    * também usei queijo mussarela para rechear alguns rolinhos

    Molho agridoce
    1 xícara (chá) de suco de abacaxi
    2 colheres (sopa) de açúcar
    1/4 xícara (chá) de água
    1 colher (sopa) de maisena
    4 colheres (sopa) de ketchup
    1 colher (sopa) de vinagre
    1 colher (chá) de sal
    corante vermelho

    Modo de preparo:

    Massa

    Bater a farinha, a água e o sal com um fuê, até obter uma massa lisa e deixar na geladeira por aproximadamente 4 horas.


    Depois disso, coloque um pouco de óleo na frigideira, retirando o excesso com um guardanapo, frite a massa, espalhando-a com a ajuda de um pincel para cozinha, para que fique bem fina. Deixar um pouco de massa para servir como "cola" para fechar os rolinhos depois.


    As primeiras massas ficaram meio grossas e feias, mas depois fui pegando o jeito:



    Uma dica é deslocar a frigideira para uma boca sem fogo, espalhar a massa e depois voltá-la para o fogo. Fiz isso para ter um pouco mais de tempo de espalhar a massa antes que ela se solidificasse.

    Reserve.


    Recheio

    Cozinhe o frango (usei peito) em água e um tablete de caldo de galinha.


     Depois que cozinhar, desfie.


    Corte o repolho em tiras finas e rale a cenoura.


    Pique a cebola e o tomate. Esquente o óleo, coloque a cebola e, quando estiver frita, adicione o tomate picado e o outro tablete de caldo de galinha. Em seguida, acrescente o repolho e a cenoura picados e também o frango.


    Também usei queijo mussarela para rechear alguns rolinhos.

    Enrole o recheio na massa.


    Coloque um pouco do recheio escolhido mais para o lado inferior.



    Dobre as duas bordas.


    Enrole todos os rolinhos e, depois, passe o restante da massa nas bordas para colar.


    A lateral do rolinho ficará mais ou menos dessa forma


    Para selar os rolinhos, esquentei a frigideira e deixei ali por alguns minutos, pois só passar o restante da massa na borda não foi suficiente. Com isso, o problema do fechamento foi resolvido.

    Retire os rolinhos da frigideira e reserve-os em um prato. Acrescente óleo e, quando estiver bem quente, frite-os até dourar.


    Molho agridoce

    Misture todos os ingredientes em uma panela e misture até engrossar. Não cheguei a usar maisena porque não tinha, por isso o molho ficou menos grosso, mesmo assim, ficou bom. Pode-se acrescentar um pouco mais dos ingredientes para acertar o gosto (caso o abacaxi esteja azedo, será necessário adicionar mais açúcar, por exemplo).


    Vi partes desses vídeos no YouTube que me ajudaram: este e este (parte 2).

    Também é possível comprar a massa pronta, feita com farinha de arroz, em lojas de produtos orientais, mas ainda não experimentei. É uma alternativa, pois acertar a espessura fina da massa dá um certo trabalho.

    Apesar de ser uma receita bastante trabalhosa (não exatamente difícil), valeu a pena. Minha maior curiosidade era saber como o molho agridoce, que sempre acompanha os rolinhos nos restaurantes, era feito. Agora já sei! :)